A manhã nem começou mal, ela acordou surpreendentemente bem-disposta. Coisa rara. Em dias de escola, nunca quer sair da cama. É sempre um filme arrancá-la dos lençóis. Mas como lhe falei na prima Joana, saltou de contente.
Entretanto achei melhor dizer-lhe porque é que íamos ter com a prima ao posto médico. Expliquei-lhe que iam as duas levar a vacina da gripe. Foi nesse preciso momento que começou o drama. Fomos para o posto artilhadas de barbies e afins. Quando a enfermeira (muito simpática, por sinal) lhe disse o que ia acontecer, a coisa deu-se. Berros, gritos e pontapés. Tudinho aquilo a que temos direito e que pertence a uma valente birra.
A vacina foi dada com uma enfermeira a agarrar-lhe os pés, eu a agarrar-lhe os braços e outra a dar-lhe a dita. Demorou uns 2 segundos. Mal ela se apanhou no chão, disse que se ia embora. E assim foi. Começou a correr despida, pelo centro fora. A chorar e a refilar... a dizer mal da vida.
Quando finalmente a consegui apanhar, informou-me que nunca mais ia falar comigo. "NUNCA MAIS, MÃE! JÁ NÃO SOU TUA AMIGA."
E ficou assim, a pensar na vida, debaixo de uma mesa. E eu sentada ao lado dela, a pensar na minha vida também.
Nestas alturas o melhor que tenho a fazer é dar-lhe tempo. Deixá-la chorar. Até começar a acalmar e ai consigo conversar com ela.
Fomos para o carro ainda zangadas. Chamou-me de Má. "TU ÉS MÁ, MESMO MÁ."
Chegámos ao colégio e perguntei-lhe se podíamos fazer as pazes. Fez beiço. Disse que não. Levei-a ao colo. Aconcheguei a birra. Ficou feliz no colégio e despediu-se de mim com um beijinho e disse-me baixinho e entre dentes qualquer coisa como "JÁ SOU TUA AMIGA."
Para o mês que vem há mais. MEDO.